Por volta de 1940, Badgley introduziu o conceito de que as articulações facetárias (ou zigoapofisárias) da coluna vertebral poderiam ser fonte de dor em virtude da inervação que atua no complexo articular facetário. A articulação facetária (zigoapofisária) é uma estrutura sinovial envolvida por uma cápsula ricamente vascularizada e inervada pelo ramo medial do ramo dorsal do nervo espinhal. As articulações zigoapofisárias iniciam entre C1 e C2 e vão até L5-S1. Por possuírem diversas terminações sensitivas, é comum que tais articulações sejam a causa de severos quadros álgicos, muitas vezes incapacitantes. Esse quadro caracteriza uma condição clinica conhecida por Síndrome Facetária ou Síndrome das Facetas.
Clinicamente, a síndrome facetária ainda continua sendo um entidade mal definida podendo apresentar um ou a combinação dos seguintes sintomas:
· Dor localizada na coluna vertebral;
· Rigidez no movimento da coluna vertebral;
· Hipersensibilidade da musculatura paravertebral;
· Ausência de déficit neurológico.
A prevalência da síndrome das facetas é considerável, sendo responsável por 15 a 45% dos casos de dor crônica na coluna vertebral (1, 2). Benzels no livro Spinal Surgery relata que se trata de um quadro álgico localizado que, geralmente, piora com os movimentos, sendo extremamente difícil a diferenciação das outras causas de dor na coluna vertebral. Muito se questiona sobre a eficácia dos exames complementares no diagnóstico da síndrome facetária. Benzelsé categórico em afirmar que a investigação complementar (através de tomografia computadorizada ou ressonância magnética) não define o diagnóstico, pois não existem alterações imaginológicas patognomônicas de tal patologia. Portanto, os exames complementares devem ser solicitados e reservados, apenas, para excluir outras causas de dor na coluna vertebral. Em outras palavras, um paciente portador de síndrome facetária pode apresentar um exame complementar totalmente normal.
O tratamento mais comum e utilizado para síndrome de facetas é a denervação facetária, seguida de exercícios para fortalecimento da musculatura paravertebral. Benzels destaca que a denervação de facetas está indicada para os pacientes que possuem dor localizada na coluna vertebral e que não apresentam alterações imaginológicas que justifiquem o quadro álgico. Ou seja, trata-se de uma indicação meramente clínica. A denervação pode ser quimica ou através de radiofrequência, sendo, a durabilidade do efeito anestésico a maior diferença entre ambas. Tal procedimento consiste, a grosso modo, em anular os receptores nociceptivos da cápsula das articulações zigoapofisárias com bloqueio temporário da articulação guiado por radioscopia sob sedação. Na denervação facetária química, Theodoros Theodoridisrecomenda o uso de corticóide e anestésico local.
Manchikanti et al avaliaram em ensaio clinico randomizado 60 pacientes submetidos a denervação facetária com corticóide e anestésico local para dor lombar crônica. Os resultados demonstraram que os pacientes submetidos a denervação facetária apresentaram melhora siginificativa da dor e do estado funcional em 3 meses, 6 meses e 12 meses (6).
Falco et al publicaram uma revisão sistemática em 2009 onde poderaram que 36 a 67% dos pacientes com cervicalgia possuem componente facetário no quadro álgico (evidência nível I ou II-1). Também concluiram que a denervação facetária química ou por radiofrequência possui bons resultados no controle da dor (evidência nível II-1) (7). Essa mesma conclusão foi obtida por Manchikanti et al em revisão sistemática de 2015. A evidência de melhora a longo prazo para denervação facetária química ou por radiofrequência é nível II (8).
Portanto, pode-se perceber que a síndrome facetária é causa frequente de dor na coluna vertebral. Seu diagnóstico é basicamente clinico sendo que tal mazela não gera alterações patognomônicas nos exames de imagem. E a denervação facetária química ou por radiofrequência possui bons resultados práticos e clinicos no controle álgico, com relevante sustentáculo científico para a sua prescrição.
Referências Bibliográficas:
1) Manchukonda R, Manchikanti KN, Cash KA, Pampati V, Manchikanti L. Facet joint pain in chronic spinal pain: an evaluation of prevalence and false-positive rate of diagnostic blocks. J Spinal Disord Tech. 2007;20(7):539-45
2) Manchikanti L, Manchukonda R, Pampati V, Damron KS, McManus CD. Prevalence of facet joint pain in chronic low back pain in postsurgical patients by controlled comparative local anesthetic blocks. Arch Phys Med Rehabil. 2007;88(4):449-55
3) Carette S, Marcoux S, Truchon R, Grondin C, Gagnon J, Allard Y, Latulippe M. A controlled trial of corticosteroid injections into facet joints for chronic low back pain. N Engl J Med. 1991;325(14):1002-7.
4) Lilius G, Laasonen EM, Myllynen P, Harilainen A, Grönlund G. Lumbar facet joint syndrome. A randomised clinical trial. J Bone Joint Surg Br. 1989;71(4):681-4.
5) Mark V Boswell, James D Colson, Nalini Sehgal, Elmer E Dunbar, Richard Epter A systematic review of therapeutic facet joint interventions in chronic spinal pain. Pain Physician. 2007 Jan;10(1):229-53.
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