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  • Foto do escritorRafael Oliveira

Menstruar pode gerar convulsões?



epilepsia catamenial

Talvez ninguém entenda qual a relação entre a comum menstruação com epilepsias. Ao primeiro olhar parecem eventos totalmente independentes. Todavia, apesar de ser algo bem inusitado existe uma entidade patológica que une o ciclo menstrual com essa rotineira mazela neurológica. A epilepsia catamenial refere-se a um padrão convulsivo que modifica sua intensidade em determinados períodos do ciclo menstrual. Pode afetar de 10 a 70% das mulheres epiléticas em fase reprodutiva e está francamente associada com os hormônios que ditam tal processo fisiológico. Portanto, torna-se imperativo compreender um pouco de como se dá a menstruação. Desculpem-me os colegas ginecologistas por possíveis equívocos, mas vou ser bem superficial somente para fornecer um panorama para cimentar tal entendimento.

Basicamente, o ciclo menstrual divide-se em três etapas. A primeira, conhecida por fase folicular, dura entre 5 e 12 dias e é representada pelo aumento do FSH, a substância que estimulará a maturação do óvulo para posterior liberação. A segunda, chamada de fase ovulatória, é ditada por um incremento do estrogênio que, consequentemente, estimula o LH. A terceira, ou fase lútea, é a última etapa do ciclo. Nela, dá-se um aumento da progesterona com o intuito de preparar o útero para uma possível gravidez. É importante destacar também que em ciclos anovulatórios a fase lútea é caracterizada por tímidos índices de progesterona. Portanto, acabamos de revisar de um modo simplificado a menstruação.

Sabe-se, hoje em dia, que o estrogênio é um estimulante convulsivo, pois aumenta a excitabilidade neuronal. Já a progesterona é um anti-convulsivo, interferindo na atividade do GABA. Portanto, são substâncias com atividades totalmente antagônicas. Fica claro que nas etapas do ciclo menstrual ditadas pelo estrogênio pode ocorrer a exacerbação das crises convulsivas. Quando a progesterona torna-se dominante, a mazela neurológica é melhor controlada. Tal dinâmica, inclusive, vem orientando o tratamento dessa patologia, onde pesquisas procuram avaliar a resposta de pacientes a administração exógena de progestágenos. A menopausa refere-se a uma circunstância bem peculiar. Em seu prelúdio dá-se um aumento do estrogênio o que, por conseguinte, desencadeia maiores taxas de convulsões. Quando a mulher alcança a menopausa as taxas hormonais caem consideravelmente o que traduz-se em menos crises. Desse modo, fica claro que o corpo humano trabalha de modo holístico, fato esse que nos impede de descartar qualquer vinculo orgânico e patológico por mais estranho que ele possa, inicialmente, parecer.


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