Síndrome de Penélope
- Rafael Oliveira
- 11 de ago. de 2020
- 2 min de leitura

Embora eu sempre tente me manter atualizado no campo em que atuo, a Medicina tem um tremendo potencial de nos surpreender e nos apresentar novidades. Semana passada atendi em meu consultório uma paciente com um diagnóstico um tanto quanto esquisito: Síndrome de Penélope. Em frente a esse sugestivo nome que eu acreditava não possuir nenhuma relação com a mulher de Ulisses, principal personagem da Odisséia, fui estudar para saber do que se tratava.
A encefalopatia associada a estado epilético durante o sono, ou Síndrome de Penélope, é uma condição vista na infância onde ocorrem constantes e relevantes descargas elétricas anormais no cérebro durante o sono não REM. Geralmente, não se percebe outros sintomas associados e o status epilético desaparece durante o sono REM. Na prática, as ondas de alta voltagem e as descargas de pico geram um desarranjo na formação encefálica, levando a um retardo do desenvolvimento neuropsicomotor e prejuízo cognitivo. Vários mecanismos de reparo neuronal se dão durante o sono e, na vigência de descargas elétricas patológicas durante esse importante período do dia, o desenvolvimento cerebral fica extremamente prejudicado. Independente do tratamento adotado, o prognóstico ainda é ruim.
Na mitologia grega, Penélope foi a esposa de Ulisses. Esse, partiu para a Guerra de Tróia e durante anos não deu mais noticias. O pai de Penélope passou a pressioná-la para embarcar em um novo casamento, mas essa negava veementemente a possibilidade na espera do retorno de seu amado. Após, muita pressão de seu pai Penélope cedeu. Todavia, estabeleceu uma condição para novamente se casar. O novo matrimônio se daria após ela acabar de tecer um sudário para Laerte, pai de Ulisses. Então, fiel, Penélope costurava durante o dia e desmanchava o trabalho à noite para retardar o máximo possível a conclusão da peça de pano. E nesse ponto encontra-se a associação com a síndrome epilética. Durante a noite, as descargas elétricas desmancham a plasticidade e a arquitetura cerebral, gerando consequências vistas durante o dia.
Estou estagiando na segurança assistencial e hoje vi no prontuário de uma criança de 8 anos, com o diagnóstico da Síndrome de Penélope. Como identificar na assistência essa síndrome quando não diagnosticada? Ela vem associada de outras patologias?