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O n oxido de trimetilamina (TMAO) e o metabolismo

  • Foto do escritor: Rafael Oliveira
    Rafael Oliveira
  • 6 de jun. de 2020
  • 4 min de leitura

TMAO e metabolismo
TMAO e metabolismo

     Hoje vou escrever sobre um tema que até a pouco tempo atrás até eu desconhecia. Vou falar sobre uma substância que se chama n oxido de trimetilamina ou TMAO. E porque vou falar sobre isso? Porque há alguns dias, um amigo meu que segue a dieta low carb por minha orientação veio assustado me questionar se eu tinha visto um documentário sobre alimentação que estava disponível em um desses provedores de streaming. E resolvi escrever de uma forma mais informal pois o start desse texto ocorreu em virtude de uma produção cinematográfica. Vamos nessa?

  A grosso modo, o documentário falava sobre a dieta vegetariana, defendendo veementemente sua adoção. Fui olhar o documentário para ver o que estava assustando tanto os seguidores da dieta low carb. E, a de modo geral, ele não foge muito dos ferrenhos embates sobre dieta que são travados nos mais variados meios de comunicação. Devo comer mais carboidrato ou mais alimentos de origem animal? Ser vegetariano é melhor de que ser carnívoro?

   Fato é que muitos vídeos e opiniões têm apontado de maneira muito veemente que consumir alimentos animais manteria o corpo em constante status inflamatório e que as dietas embasadas em produtos vegetais seria a base de nossa alimentação primordial. Dentro desse contexto, as dietas que permitem alimentos de origem animal, muitas vezes taxadas de grandes culpadas pela epidemia de obesidade que assola o mundo atual, passaram a ser alvo de criticas por outros motivos, além das mal faladas gorduras saturadas. E o novo vilão é uma substância chamada de TMAO. Estão afirmando que esse elemento, originário do metabolismo de alimentos animais, seria o responsável pelo desenvolvimento de inúmeras doenças como a aterosclerose. Em outras palavras, a comida de origem animal seria um veneno que aos poucos iria danificar o seu corpo.

E isso procede?

Antes de mais nada é importante esclarecer o que é TMAO.

    A L carnitina, a colina e a lecitina são aminoácidos presentes em alimentos de origem animal como carnes vermelha e de peixe, laticínios e ovos. Para quem ainda não sabe, aminoácido é o substrato de formação de uma proteína. Então, ao serem ingeridos, são metabolizados no intestino por bactérias de nossa microbiota e acabam por originar o TMA (trimetilamina). Esse composto sofre oxidação hepática e dá origem ao famoso TMAO (n oxido de trimetilamina).

  Essa substância de nome estranho tem sido associada por diversos especialistas a aterosclerose e doenças vasculares e metabólicas. Em outras palavras, algumas pessoas afirmam que consumir alimentos animais pode fazer com que você desenvolva um AVC, um infarto do miocárdio ou diabetes. Mas será que isso realmente é verídico?

  Para sabermos a verdade, opiniões não são suficientes. São necessários os famosos ensaios clínicos randomizados para esclarecer esse embate. Pois bem. Se necessitamos desse tipo de estudo para esclarecer essa dúvida, estão disponíveis ensaios clínicos randomizados sobre o tema? A resposta é não.

Então, se não existem estudos randomizados sobre o tema de onde surgiram essas ideias e especulações sobre o TMAO?

Surgiram de diversos estudos epidemiologicamente limitados que nem ao menos mantém uma linha conclusiva continua. Ou seja, uns estudos crucificam o TMAO e outros o absolvem.

Vou explicar um pouco melhor.


· Uma meta análise de 2018 com 11 estudos de coorte (um estudo limitado do ponto de vista científico) sugeriu em suas conclusões que seria necessário uma maior investigação sobre o tema, pois os estudos disponíveis possuem inúmeros vieses que não permitem fazer a associação entre o TMAO e doença cardíaca (1).


Observem dois pontos:


1) Trata-se de um estudo de coorte, ou seja, com baixo potencial de generalização. – Fraco cientificamente.

2) Os autores não se posicionaram sobre o tema. Sugeriram maior investigação.


Portanto, dizer que o aumento nos níveis de TMAO pode causar doenças no coração não possui respaldo cientifico.


· Um outro estudo, esse de caso controle (pior que o anterior) concluiu que o aumento de TMAO no sangue está associado a uma maior taxa de AVC (4).


· Já um outro estudo, também de caso controle, concluiu que pacientes com aterosclerose assintomática possuíam as mesmas taxas de TMAO que pessoas sem aterosclerose. Além disso, em ambos os grupos não existia diferença na microbiota intestinal. Ou seja, os níveis sanguíneos de TMAO parecem não ter a mínima relação com o desenvolvimento de patologias vasculares. Nesse mesmo estudo foi verificado que pacientes que tiveram um AVC possuíam taxas sanguíneas de TMAO bem inferiores aos indivíduos assintomáticos (2).


Conclusões:


1) Ambos são estudos de caso controle, ou seja, limitadíssimos do ponto de vista epidemiológico.


2) Mesmo dois estudos fracos cientificamente não conseguem chegar a um simples consenso. Se um derrame cerebral decorre de um problema vascular (ou seja, da aterosclerose) e especialistas estão tentando associar níveis elevados de TMAO a um aumento da ocorrência de aterosclerose, porque alguns estudos mostram que pacientes que tiveram AVC tem TMAO mais baixa?


· Existe um estudo prospectivo chamado de CARDIA. Também não é um ensaio clinico randomizado, portanto, devemos analisar seus resultados com ressalvas. Esse estudo concluiu que o TMAO não foi implicado na mudança das medidas endoteliais para caracterizar aterosclerose (5). Ou seja, nesse estudo os vasos sanguíneos não ficaram doentes devido a um aumento de TMAO.


Dá para perceber que existe grande divergência nesse campo. Alguns estudos classificam o TMAO como algo danoso e perigoso e outros o eximem de qualquer tipo de culpa. Todavia, alguns pontos são bem básicos.


1) Não existem ensaios clínicos randomizados bem delineados que definam qualquer participação do TMAO em doenças vasculares ou metabólicas.


2) Existem estudos que satisfazem todos os gostos. Ou seja, se você quer crucificar o TMAO conseguirá. E se você quiser absolve-lo também.

 Portanto, a mais fidedigna ciência ainda não se posicionou sobre tal metabólito e qualquer afirmação a seu respeito e seu vínculo com qualquer patologia não passa de mera especulação. Para ser o mais claro possível, a ciência e nosso metabolismo continuam afirmando der modo veemente que nosso corpo foi esculpido para o consumo de alimentos animais. Você pode não gostar de carne. Pode, por inúmeros motivos, adotar a dieta vegetariana. Mas jamais alguém poderá afirmar que se trata da dieta primordial. A evolução, o metabolismo e a ciência não confirmam tal postura.

 
 
 
Dr Rafael Oliveira
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