Muitos especialistas falam diariamente sobre a barreira hematoencefálica mas nem todos sabem o que ela significa e onde está exatamente localizada. A grosso modo, a barreira hemato encefálica é uma “unidade neurovascular” localizada nos capilares e nas microveias cerebrais, região onde são feitas as trocas sanguíneas encefálicas. A BHE não é encontrada no plexo coróide, na hipófise e nos recessos pineal e pré óptico e é composta por:
· Endotélio neurovascular;
· Membrana basal;
· Neurônios;
· Estruturas neurogliais (astrócitos, pericitos e micróglia).
Desses, o que merece maior análise são os pericitos. Tratam-se de células de tecido conectivo contrátil localizados nas paredes dos capilares sanguíneos cerebrais. Têm por função atuar juntamente com os macrófagos ativando respostas imunes para defender a passagem pela BHE. Ademais, influenciam no fluxo sanguíneo e inibem a produção de substâncias que alteram a permeabilidade vascular. Portanto, são células indispensáveis a função de tal sistema protetor.
Microscopicamente, a BHE é formada por uma camada microvascular de células endoteliais muito justapostas formando estreitas passagens chamadas de “junções de oclusão”. Essas junções representam a característica mais marcante da barreira. Formam uma camada protetiva composta por várias moléculas adesivas ligadas a proteínas.
Para desempenhar suas constantes funções, as células endoteliais da BHE possuem maior quantidade de mitocôndrias quando comparadas as células periféricas. Esse fato demonstra alta necessidade de energia celular para manter a BHE ativa. Além disso, a BHE possui um sistema enzimático de vigilância que metaboliza drogas e outras substâncias antes de elas atravessarem o seu intimo bloqueio. Esse sistema é composto pelos:
· Υ – glutamil transpeptidase;
· Fosfatase alcalina;
· Ácido descarboxilase
O transporte através da BHE pode se dar de quatro formas:
1) Difusão simples – Transporte por alteração do gradiente de concentração.
2) Difusão facilitada – Substâncias se ligam a proteínas da membrana e se movem através da barreira por alteração do gradiente de concentração.
3) Difusão simples por canais aquosos – Íons e solutos carregados utilizam tal sistema.
4) Transporte ativo via carreadores protéicos – Mecanismos onde os solutos atravessam a barreira contra um gradiente
E os compostos regularmente transportados através da barreira são:
· Glicose;
· Amino ácidos;
· Neurotransmissores;
· Íons e água;
· Lipoproteínas;
· Leucócitos.
Diversos tratamentos focados em mazelas do Sistema Nervoso Central necessitam vencer a BHE. Todavia, nem todas as terapias possuem tal habilidade. Desse modo, a indústria farmacêutica utiliza “modificações nas drogas” o que as torna capazes de atravessar a barreira. Os métodos mais usados são as “conjugação lipofílicas” e a “conjugação a moléculas bioativas”.
Várias patologias possuem a capacidade de comprometer o pleno funcionamento da BHE como tumores cerebrais, infecções, traumas, acidentes vasculares e encefalopatias. E o edema cerebral pode ser resultado de tal comprometimento. Existem, basicamente, três tipos de edemas:
1) Citotóxico – A barreira permanece fechada não havendo extravasamentos. Portanto não há contraste em exames de imagem (visto em traumas);
2) Vasogênico - Ruptura da barreira. Há extravasamento o que pode permitir a visualização de contraste em exames de imagem (visto em tumores);
3) Isquêmico – A barreira está fechada incialmente mas depois pode abrir.
Portanto, é possível perceber que a BHE tem por função proteger o Sistema Nervoso Central, selecionando as substâncias que terão contato direto com cérebro. A sua ruptura pode acabar gerando severos danos a rede neuronal.
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