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  • Foto do escritorRafael Oliveira

Comer gordura de coco faz realmente mal à saúde?



Comer gordura de coco faz mal à saúde?

A medicina faz-se através de muito estudo. Além disso, é importante ter boa dose de bom senso para interpretar certas pesquisas, visto que delineamentos são concebidos pelo homem e, muitas vezes, guardam nas entrelinhas interesses escusos e nada ortodoxos. Após abstrair esses pontos, deve-se, necessariamente, deixar em segundo plano fatores pessoais ou ambientais para, assim, conceber um texto ou uma diretriz que orientará diversos profissionais ao redor do globo. A confiança que deposita-se em entidades reguladoras é extrema, cegando a grande maioria dos profissionais que, sem dúvida, deveriam dedicar maior tempo para investigar as origens dos protocolos que guiam as condutas médicas. Há alguns dias atrás uma reconhecida organização de saúde divulgou um texto onde faz, a grosso modo, uma análise da interação entre o consumo de gorduras saturadas e injúrias cardiovasculares. O autor ataca diretamente esses saborosos lipídeos, afirmando tratarem-se de um macronutriente potencialmente perigoso. Faz uma análise sobre o LDL colesterol, concluindo que refere-se a uma substância grosseiramente aterogênica. Contraditório a tal enfática afirmação, estudos atuais já definem claramente que, somente, o subtipo pequeno e denso é capaz de lesar o endotélio vascular e predispor aos perigosos entupimentos (1). Declarar o contrário reflete, não apenas desconhecimento ou falta de compreensão científica, mas uma irresponsabilidade capaz de interferir diretamente na saúde cardiovascular das pessoas.

Como o sustentáculo teórico do artigo não diferencia adequadamente os subtipos de LDL colesterol bem como suas ações a nível vascular, o desenvolvimento do texto torna-se totalmente comprometido. A generalização realizada, que culmina na afirmação de que a lipoproteína deve ter seus níveis totais reduzidos, refere-se a uma colocação digna do ensino primário, onde o conceitualização deve ser generalista para fornecer um aparato legível para mentes férteis e ávidas por informação. Nessa mesma linha de raciocínio, acredita-se que, para abraçar especialistas médicos, análises mais detalhadas e condizentes com a realidade científica deveriam ser favorecidas. Portanto, torna-se inadmissível que um periódico respeitado permita a publicação de um artigo que utiliza as mesmas definições empregadas no primeiro contato com os lipídeos por parte de pré-adolescentes escolares. O LDL colesterol possui subtipos claramente definidos onde estudos comprovam que a variante pequena e densa é a mais propensa a aterosclerose (1). Isso é fato consumado. Desse modo, não pôde-se afirmar que, ao ter o valor global elevado dessa gordura, esse represente, sobretudo, moléculas pequenas e densas.

A informação mais veiculada do artigo dizia respeito à gordura de coco. Com inúmeras novas dietas, essa vem sendo utilizada como alternativa energética para diversas pessoas. O desavisado autor afirmou que ingerir os lipídeos dessa saborosa e versátil fruta pode reverter-se em patologias cardíacas. Isso ocorreria devido ao aumento do LDL colesterol total gerado por essa substância. Primeiramente, já foi dito que o valor global da lipoproteína não possui nenhuma representatividade patológica. Em segundo lugar, o próprio autor diz que NÃO existem estudos que associem a gordura de coco com doenças cardiovasculares. Portanto, concluir que esse alimento pode afetar negativamente o coração e os vasos sanguíneos é especular sobre algo de modo superficial e inadequado. A ciência possui ampla margem para pajelança e para a busca incessante pela notoriedade. Deve-se ter extremo cuidado ao avaliar qualquer artigo médico.

Vale relembrar que, em nenhum momento, optar por uma dieta hipergordurosa traduz-se em consumir, exclusivamente, lipídeos saturados. A ingesta de poli-insaturados também é válida e, inclusive, acarreta melhores resultados laboratoriais. O que deve ficar muito cristalino é que a aversão pregada por décadas contra as gorduras saturadas não encontra respaldo literário satisfatório e pertinente.


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