Há poucos dias atrás a American Heart Association deu ênfase a um artigo associando a restrição de glúten com o desenvolvimento de diabetes tipo 2. O autor do trabalho, mestre titulado e reconhecido, afirmou que a ingesta da principal proteína do trigo é fator protetivo na ocorrência dessa perigosa injúria metabólica. Em outras palavras, comer glúten evitaria diabetes tipo 2. Só quem, efetivamente, deveria evitar esse elemento são os pacientes celíacos. O resto da população deveria ingerir tal substância regularmente para proteger a engrenagem metabólica de temerosas injúrias.
De vilão a mocinho, o glúten tem recebido destaque corriqueiro na mídia. Seus defensores, cada vez em maior número, tentam aniquilar os conceitos modernos avessos ao consumo dessa proteína. Todavia, essa ojeriza encontra respaldo na indubitável verdade de que o glúten não é digerível. Aliás, sua frustra tentativa de ser quebrado no intestino produz perigosas substâncias conhecidas por citocinas pró-inflamatórias. Tentar provar o contrário requer, ao menos, estudos científicos gabaritados.
Na pesquisa publicada pela American Heart Association, os investigadores analisaram 199.794 participantes, ou seja, um número com grande significância e bem impactante. Ao longo do estudo, verificaram que os indivíduos que ingeriam menores taxas de glúten eram mais propensos a desenvolver resistência à insulina. A explicação seria que os alimentos pobres na proteína do trigo possuem menores índices de fibras, o que facilitaria sua digestão e o consequente aumento da insulina. Além disso, são dotados de taxas reduzidas de micronutrientes e vitaminas. A conclusão é que comer glúten estimularia com menor intensidade o hormônio pancreático e forneceria substâncias indispensáveis ao bom funcionamento orgânico.
Fato é que toda essa análise contundente numerologicamente foi concebida através de questionários alimentares. Do ponto de vista científico trata-se de uma metodologia muito pobre, passível de enormes equívocos conclusionais. Afinal, se alguém questionar você sobre a sua alimentação no último ano, existe enorme possibilidade das informações serem totalmente distorcidas. O ideal seria delinear uma randomização. Com um mero estudo observacional, generalizar os resultados deve ser considerado um ato irresponsável. Mas o mais interessante é que diversos profissionais da área ganharam a mídia defendendo os desfechos desse mal elaborado estudos. Publicar um artigo nessas conformações já é algo passível de críticas e desconfianças. Tecer comentários favoráveis a respeito é a total desinformação a respeito do assunto. O glúten é, sem dúvida, uma proteína indigerível, sendo, assim, POSSIVELMENTE lesiva a qualquer pessoa. Não existem, ainda, ensaios randomizados definitivos. Mas a irrefutável fisiologia nos conduz a essa conclusão.
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