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Dr. Rafael Oliveira
Especialista em Neurocirurgia e Cirurgia de Coluna Vertebral
EXAME DO SISTEMA SENSITIVO
O ato de sentir, ter determinada percepção de contato, pressão ou temperatura, entre outros, representa a sensibilidade. E essa ocorre graças a um complexo mecanismo neurológico que chamamos de Sistema Sensitivo. Todo o nosso corpo é coberto por inúmeras terminações sensitivas. Além disso, nossas vísceras também possuem tais terminações. E essas, através das vias sensoriais de transmissão para o Sistema Nervoso Central, informam constantemente o nosso córtex sensorial somático sobre o que está acontecendo com o nosso corpo. Portanto, se um inseto lhe picar no dedo do pé, mesmo que você não enxergue, seu cérebro saberá. E esse mecanismo é tão veloz e aguçado que caso você encoste o dedo em uma superfície quente, o seu reflexo de retirada é mais rápido que o ato de pensar. Portanto, o Sistema Sensitivo funciona também para a auto preservação.
Os sentidos somáticos são mecanismos que passam constantemente recolhendo informes de terminacões nervosas. Geralmente, são divididos em três tipos: mecanoreceptivos, termoreceptivos e dor. Os primeiros podem ser de tato (pressão, cócegas) e posição (velocidade do movimento , estática).
Já as sensações são geralmente classificadas em quatro tipos: exteroceptiva, proprioceptivo, viscerais e profundas.
· Exteroceptiva – Envolvem as sensações vinculadas aos estímulos da superfície do corpo.
· Proprioceptiva – Envolvem as sensações vinculadas ao estado físico do corpo como sensação de equilíbrio, sensação de posição, sensação dos tendões e dos músculos e sensação da pressão na planta dos pés.
· Viscerais – Envolvem as sensações prodedentes das vísceras, como uma dor de estômago por exemplo.
· Profundas – Envolvem as sensações de tecidos profundos como fácias, músculos ou ossos.
A classificação de Head divide a sensibilidade em epicrítica e protopática.
· Epicrítica – Envolve o tato leve, discriminação de dois pontos e pequenas alterações de temperatura. Se lesada, não recupera.
· Protopática – Envolve a dor e altos graus de temperatura. Se lesada, recupera.
CÓRTEX SENSORIAL SOMÁTICO
O córtex sensorial somático é a área cerebral responsável por todo o recebimento das sensações colhidas pelo corpo. Ele torna consciente o que o seu corpo sente. Está localizado no lobo parietal e, para questões funcionais, é geralmente dividido em duas áreas: a área sensorial somática 1 e as áreas sensorias somáticas de associação.
1) Área Sensorial Somática 1 – A área sensorial somática 1 é a porção cortical de maior relevância para a sensibilidade. Está localizada atrás da fissura central no giro pós central e representa as áreas 3, 1, 2 de Brodmann. Cada lado do córtex recebe informações sensoriais do lado contralateral. Caso ocorra lesão dessa área o paciente perderá a capacidade de avaliar a pressão, o peso de objetos, a forma e volume de objetos, discriminar texturas e localizar sensações discretas pelo corpo. A capacidade de sentir dor e temperatura permanecerá vigente. Todavia, o paciente perderá o poder de localizá-las.
2) Áreas Sensoriais Somáticas de Associação – Essas áreas estão localizadas atrás da área sensorial somática e decifram as informações sensorias que a atingem. Representam as áreas 5 e 7 de Brodmann. Caso essas áreas sejam lesadas, o paciente não reconhece o objeto que está palpando e desenvolve a amorfossíntese (esquece o hemicorpo contralateral).
VIAS SENSORIAIS DE TRANSMISSÃO PARA O SISTEMA NERVOSO CENTRAL
1) Sistema Coluna Dorsal Lemnisco Medial – O sistema coluna dorsal lemnisco medial conduz os impulsos sensitvos pela coluna dorsal da medula espinhal, mais precisamente nos fascículos grácil e cuneiforme. O fascículo grácil recebe fibras sacrais, lombares e torácicas baixas e o fascículo cuneiforme fibras torácicas altas e cervicais. Após estimular uma terminação sensitiva, o impulso entra através de uma raíz nervosa dorsal na medula. Nesse ponto, as raízes dorsais se dividem, dando origem a um ramo medial e um ramo lateral. O ramo medial vai pela coluna dorsal até o cérebro. No bulbo, as fibras cruzam para o lado contralateral e seguem para o tálamo, através do lemnisco medial. Nesse ponto, algumas fibras se juntam a fibras trigeminais, formando o complexo ventrobasal. Esse vai até a área somática 1. Esse sistema é capaz de transmitir sinais de alta fidelidade (tato fino, pressão fina, vibração, posição). Já o ramo lateral entra na ponta dorsal do H medular e faz várias sinapses, sendo que algumas fibras dão origem aos feixes espinocerebelares.
2) Sistema Ântero Lateral – O sistema ântero lateral é o responsável por sinais que necessitam menos fidelidade (dor, temperatura, sensações sexuais, tato grosso, coceira). Após estimular uma terminação nervosa, as fibras entram na parte posterior da medula espinhal e vão até a comissura anterior da medula (anterior no H medular) onde cruzam indo para as colunas brancas anterior e lateral do lado oposto. Essas, então, formam os feixes espinotalâmico anterior e espinotalâmico lateral.
>> Feixe Espinotalâmico Anterior - Responsável por transmitir os tatos leve e protopático.
>> Feixe Espinotalâmico Lateral – Responsável por transmitir sinais termoalgésicos. Conduz a sensação de dor aguda.
>> Via Espinoreticular – Essas fibras seguem o feixe espinotalâmico lateral e termina na formação reticular no tronco encefálico, originando as fibras reticulo-talâmicas. Essas são responsáveis por transmitir a sensação de dor crônica e difusa.
O Sistema Ântero Lateral possui terminação dupla quando chega ao encéfalo.
★ Núcleos reticulares no tronco cerebral.
★ Complexos nucleares no tálamo como o “complexo ventrobasal” (recebe fibras do tato) e “núcleos intralaminares” (recebe os sinais de dor provenientes dos núcleos reticulares).
UTILIDADE CIRÚRGICA
Para questões cirúrgicas de tratamento de dor crônica é importante localizar anatomicamente o ligamento denteado. Esse prende a dura máter à medula espinhal. Possui anteriormente o feixe espinotalâmico lateral (dor) e posteriormente o trato corticoespinhal (trato piramidal). Portanto. Localizando tal ligamento é possível lesionar o feixe espinotalâmico lateral, sendo uma das modalidades terapêuticas para dor crônica intratável.
AVALIAÇÃO CLINICA DO SISTEMA SENSITIVO
1) Teste de Sensibilidade Superficial (Exteroceptivas)
· Toque suave na pele
· Discriminação de temperatura – Quente e frio
· Dor superficial – Pequenos toques com agulha
2) Teste de Sensibilidade Profunda (Proprioceptivas)
· Sensibilidade cinético postural – Noção de posição dos segmentos do corpo e dos movimentos passivos.
· Sensibilidade vibratória ou palestésica – Possui valor limitado pois sua condução se dá tanto na coluna dorsal quanto na coluna lateral.
· Dor profunda – Obtida pela compressão de massas musculares ou tendões
3) Teste de Sensibilidade Cortical (Parietal)
· Discriminação de dois pontos
· Grafestesia – Capacidade de identificar números ou letras escritos na pele.
· Estereognosia – Capacidade de distinguir os objetos pelo tamanho, forma e textura.
· Estimulação simultânea dupla – Estímulos cutâneos simultâneos aplicados a áreas correspondentes em lados opostos do corpo são normalmente percebidos como entidades separadas. A “extinção sensitiva” se dá em lesões parietais corticais e um estímulo simples segue sendo percebido mas um estímulo simultâneo aplicado em ambos os lados do corpo deixa de ser percebido no lado afetado (contralateral a lesão).