As ciências neurológicas, assim como a medicina, evoluiu de forma inconstante e muitas vezes através de erros e observações pontuais. Não existiam estudos e metodologias complexas. Existiam individuos que, intrigados com o cérebro humano, observavam e faziam pequenos experimentos que foram conduzindo o conhecimento ao patamar a que chegamos. Portanto, a observação, a curiosidade e tentativa foram fatores determinantes para a evolução da arte que envolve o conhecimento do cérebro humano. Várias foram as pessoas que contribuiram para a evolução da neurologia.
1) Ambroise Paré (1510-1590) – Foi um cirurgião barbeiro que trabalhou com Vesalius no tratamento de Henrique II. Talvez um dos primeiros individuos a se aventurar no campo da neurociência.
2) Andreas Vesalius (1514-1564) – Foi um grande anatomista. Fez o livro “Humani corporis fábrica” com desenhos de Ticiano. Ajudou Paré no tratamento de Henrique II após lesão ocular em uma justa. Um dos primeiros relatos de um tratamento neurocirúrgico da história.
3) Camillo Golgi (1843-1926) – Foi o primeiro pesquisador a pintar células nervosas com prata e concluir que um neurônio se liga ao outro pelo axônio. Ou seja, deu inicio ao conhecimento de como o cérebro se conecta e funciona.
4) Santiago Ramon e Cajal (1852-1934) – Deu seguimento as descobertas de Golgi. Concluiu que a informação neuronal passa de um neurônio a outro através dos dendritos. Criou, assim, a “Doutrina do neurônio”, ou seja, os neurônios não eram contínuos e se comunicavam da seguinte forma: corpo - axônio - dendrito. Golgi foi o primeiro a determinar a forma dos neurônios e Cajal o primeiro a dizer como funcionavam. Todavia, não sabia como o impulso passava de um neurônio para outro.
5) Otto Loewi (1873-1961) - Fez pesquisas que serviram para determinar que os impulsos passavam de um neurônio a outro através dos neurotransmissores, complementando as ideias de Cajal. A teoria das “faíscas” de que a informação é transmitida por eletricidade foi vencida pela teoria das “sopas”, ou seja, existem neurotransmissores. Os médicos começaram a cogitar que existiam doenças que afetavam os neurotransmissores e não a anatomia do cérebro.
6) Paul Bach y Rita (1934-2006) – Demosntrou que existe a plasticidade cerebral, ou seja, um sentido quando destruído pode fazer com que outro se aguce para substituí-lo (ex: cegos desenvolvem uma melhor audição).
7) David Hubel (1926-2013) e Torsten Wiesel (1924) - Descobriram que o córtex virtual rastreia com muito mais eficiência objetos em movimento do que objetos imóveis. Um objeto em movimento excita muito mais neurônios. Da área visual o impulso se distribui para os córtex parietal e temporal em um fluxo para definir do que se trata o objeto. Talvez seja um mecanismo protetivo.
Lobo parietal – Função “como/onde”. Avalia onde algo está localizado e como se move. Se conecta aos centros de movimento do cérebro para evitarmos ou agarrarmos o que estamos rastreando. Se essa região é lesada a pessoa perde a capacidade de situar um objeto no espaço.
Lobo temporal – Função “o que”. Avalia junto com os centros da emoção do que se trata o objeto que estamos rastreando. Se essa região é lesada a pessoa perde a capacidade de reconhecer um objeto, mesmo que possa copia-lo em um desenho.
Área fusiforme de faces (AFF) - Localizada no giro fusiforme (parte inferior e posterior do cérebro do lobo não dominante. No lobo dominante no giro fusiforme está localizada a área da forma visual da palavra que serve para leitura) - A AFF é ativada quando vemos um rosto para reconhecê-lo. Essa área não monta um rosto traço por traço mas o avalia de uma forma holística. Ou seja, o cérebro humano tem grande capacidade de reconhecer rostos.
8) Silas Weir Mitchell (1829-1914) - Começou a estudar os membros fantasmas. Quando uma parte corporal é perdida, outra área adjacente cerebral começa a invadi-la tentando reprogramar a rede neuronal. No entanto, sempre sobram neurônios primitivos e isso acaba dando a sensação “fantasma” quando se perde um membro.
9) Harvey Cushing (1869-1939) - Descobriu que a hipófise secreta hormônios.
10) James Wenceslaus Papez (1883-1958) - Começou a estudar o sistema de emoções ou sistema límbico, sendo esse formado por:
- Tálamo - porta de entrada do sistema límbico.
- Hipotálamo
- Hipófise
- Hipocampo
- Amígdala - Foi esquecida nos estudos de Papez. É o local do cérebro que processa o medo com maior rapidez, dando respostas rápidas se o que estamos vendo é algo que devemos nos preocupar.
O sistema límbico também funciona rotulando objetos e sensações. Ou seja, quando uma pessoa se queima, o sistema límbico rótula que o fósforo é perigoso. Caso o sistema límbico seja destruído, a pessoa se queimará inúmeras vezes sem aprender. O sistema límbico possui conexões com o lobo pré frontal (razão) o aconselhando a tomar decisões embasado em experiências sentimentais passadas. O lobo pré frontal também bloqueia impulsos emocionais provenientes do sistema límbico os tornando socialmente mais adequados.
11) Wilder Penfield (1891-1976) - Mapeou com eletricidade o cérebro definindo qual a função de cada área cortical. Hoje esse mapeamento é conhecido por “Homúnculo de Penfield”.
- Síndrome de Capgras - Transtorno psicótico onde o doente acredita que pessoas próximas foram substituídas por dublês ou impostores.
- Memória – As memórias episódicas (ou pessoais) são armazenadas no hipocampo. As memórias semânticas (ou factuais) são guardadas no para hipocampo. As memórias podem se contaminar, modificando a situação vivida por influência de novos episódios. Por isso, as pessoas podem mudar uma situação passada ocorrida, achando que foi realmente o que aconteceu.
12) Paul Broca (1824-1880) - Descobriu a área da palavra falada no lobo frontal posterior. Os pacientes com essa área lesada sabem o que querem dizer mas não conseguem.
13) Carl Wernicke (1848-1905) - Descobriu a área da palavra pensada, local onde se entende o significado do que é falado ou dito, no lobo temporal posterior. Os pacientes com essa área lesada falam com fluência, mas palavras sem sentido com o contexto.
14) Roger Sperry (1913-1994) - Mostrou que o cérebro direito tem funções artísticas e espaciais e que uma calosotomia tira a interação entre os hemisférios cerebrais e, com isso, o entendimento completo de várias situações.
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